Anabela Kohlmann Ferrarini
Meu bom São Francisco
venho rogar-te, em aflita oração:
- Intercede por nós e pela criação!
Pela água cristalina exaurida
pela onça pintada sem vida!
Tem piedade, santo amado
do solo entristecido, queimado
da pobre árvore morta, agonizante
da jaguatirica ferida e arquejante.
Meu bom São Francisco
escuta esta súplica, sem demora
porque a floresta sente dor e chora!
Socorrei, com teu amparo fraternal
o maltratado irmão Pantanal.
Aplaca as chamas que a tudo devoram
derrama a chuva, os animais imploram!
Abriga, sob tua túnica esfarrapada
o tuiuiú sufocado, a curicaca judiada.
Meu bom São Francisco
tem pena de nós, planta, bicho, gente.
Pede a Jesus que seja conosco clemente
e perdoe o homem pela morte do Cerrado
pelo ipê sem cor e viço, incendiado!
Compadece-te, Santinho, da vida amedrontada
sem rota de fuga, pelo fogo cercada!
Protege o tamanduá, a sucuri e a arara
o veado-campeiro, a anta e a capivara!
Meu bom São Francisco
atende-me com urgência, te peço
e leve a deus o lamento que ora teço:
- Perdão, pelo Pantanal e a Amazônia!
Perdoa nossa desumanidade medonha!
Perdoa a desatinada, cruel devastação
o desmatamento, a odiosa destruição.
Pela intercessão de São Francisco de Assis
põe fim, Senhor, a esse flagelo infeliz!
- Enquanto arde o Pantanal.
(In: FERRARINI, Anabela R. Kohlmann. Palavras de papel. Novo Hamburgo, RS: Toca, 2023, p. 110-111.
