Anabela Kohlmann Ferrarini
*para Tiana
Por trás do pirulito
olhos saltitantes me espiam.
O frescor da primeira infância
transcende as pupilas meninas
anunciando amores de brinquedo
dinossauros nos descampados azuis
bonecas de pano no escorregador da praça
quebra-cabeças - “Monta-cabeças, vovó!”.
Ondulações da maré da vida
circunstâncias passadiças
bula de remédio, manual de instruções
lista de material escolar, garatujas
giz de cera, lápis de cor
guache derramada no dedão do pé.
Por trás do pirulito
a boca lambuzada de baunilha
avermelhada de morango
doce de melado e travessuras
guarda palavras de encantamento
era uma vez, num reino distante
o pirata ergueu a espada, içou a vela,
três ursos e uma menina, por demais confiada,
Branca como a neve, feroz como um leão.
No perpétuo vai e vem da vida
permanências efêmeras
emergem desses olhos cândidos
feitos de jabuticaba e luar
segura minha mão, cuidado com os carros
eu te amo pra sempre, tu não me entendes
Deus te abençoe, estou aqui.
Por trás do pirulito
a descendência brinca de roda com o passado
flerta com a saudade do que não conheceu
passa-anel, infinito; que cor é a fita, arco-íris.
O sorriso guloso pendurado no rosto aprendiz
por detrás do pirulito
conta segredos de amar
desvenda mistérios de ser feliz.
Pirulito que bate-bate
pirulito que já bateu
por trás do pirulito
quem gosta de mim é ela
quem gosta dela sou eu!